28.1.05

Eu, leitor

Antes de mais nada, eu sou um leitor de jornal. Leio, quase todos os dias, três ou quatro jornais, mais algumas revistas. Ossos da minha (não)profissão.
Mas minha leitura não é atenta. Faço como os psicanalistas - mantenho uma atenção difusa. Passo os olhos e me apego a signos e palavras recorrentes, letras maiúsculas, negritadas ou em itálico.
Quando pego os jornais, olho-os e penso que estou com o mundo em minhas mão, ou, ao menos, um guia de viagem. Ali está o que um bom cidadão mundial deve saber, mas eu não me interesso. Quando recebo por correio eletrônico o New York Times digitalizado, sou tomado por uma imensa preguiça.
Não, não sou um cidadão do mundo, não tenho o mundo em minhas mão (Parêntesis. Toda pessoa que se interessa por cultura deve ler os principais veículos mundiais de crítica ou divulgação de literatura, cinema, música, etc. Eu nem mesmo leio o NYT, que recebo diariamente pela internet).
Diante da possibilidade de saber o que todos devem saber, retorno ao meu estágio anterior, à minha infância alienada. Ouço meus velhos discos, leio meus velhos livros.
Diante da virtualidade do meu presente, prefiro habitar a virtualidade do meu passado.

25.1.05

Soneto clonado - atividade no nada fazer (1a. versão)

Inspirado em Jean Baudrillard

Quando um organismo da célula máter
se diferenciou, e o macho da fêmea,
o jovem do velho - não mais alma gêmea,
teve vida a morte, nasceu o finito.

Édipo se rebela e diz: - Não hesito!
Do incesto com a vontade, mãe eterna,
ser assexuado nasce ou hiberna,
pois não pode algo infinito nascer.

Clone, o Homem vira seu próprio câncer.
Mas antes, a ninfa o seduz. O que era antes
o sujeito, reduz-se ao indiferente:

Vida sem morte! Reprodução sem sexo!
Na matéria nós vemos a liberdade
e retorna a História à sua prima idade.

18.1.05

Argumentos

Às vezes, quem escreve coleciona argumentos. Gabriel García Márquez guardou por anos esboços que, desenvolvidos, se transformaram nos Doze contos peregrinos. Fernando Sabino teve a idéia de O grande mentecapto antes de escrever seu primeiro romance, O encontro marcado. Por aí vai.
Eu tenho meus argumentos. Passado certo tempo, ternam-se fósseis, vestígios incômodos de devaneios sem sentido. Odeio tanto meus esboços que quase nunca retomo um.
Agora, mudei. Ou melhor: já não tenho mais idade para querer ser escritor e não escrever todo dia ou quase. Por isso, comecei esse blog. Este é o único motivo: obrigar-me a trabalhar, a treinar.
Mesmo assim, ainda me envergonho de meus argumentos. Outro dia pensei em um conto sobre uma velhinha que volta a uma casa conhecida para matar alguém. Mas ela enfrentaria grande dificuldade por causa da velhice. Concordam comigo por corar?

14.1.05

TESTE

Novamente, testando... Eu com um blog, u7m lugar para minhas loucuras?