18.10.07

Livros que não escrevi

Como um escritor de talento, espero escrever livros que façam os leitores compreenderem sentimentos únicos, raros, difíceis de apreender. Um deles é o de não se reconhecer:
"Certo dia, pela manhã, Lucas acordou e se viu transformado em um assassino serial."
"Lucas Carvalho acordou pela manhã, certo dia, e não reconheceu seu rosto no espelho. Aquele que o olhava não era o que sentia por dentro."
"Em uma manhã de certo dia, Carvalho despertou transformado em um grande idiota, que havia cometido todas as basbaridades que criticava."
"Despertando certo dia, Lucas Carvalho não mais se reconheceu. Lembrou-se - com estranhamento - que já lera Goethe em javanês e Platão em grego."
"Quem sou eu?, perguntou Samsa de si para si, não fui ao enterro de minha mãe, matei um árabe na praia e não reconheço esses atos como meus. Deus, por que me abandonaste, se sabias que eu era fraco, sem liberdade?"
"Com uma dor de cabeça insurpotável, L. acordou certa manhã e não se reconheceu. Não sentia seu corpo direito, apenas via perninhas finas - mais de duas! - se mexendo a esmo, tentando agarrar algo sólido. L. tentou se lembrar do dia anterior, mas usa mente só conseguia chegar à quinta dose de uísque. Depois, havia um lugar escuro, em que ele deixara de existir."