27.5.08

Salmo

Pois tu, Senhor, abençoas o justo e, como escudo, o cercas de tua benevolência.

Salmo 5, 13.

Senhor, sinto que tenho tantos adversários. E não sei bem por quê. Ou melhor, tenho muitas suspeitas. E recorro ao Senhor porque essas suspeitas têm a ver justamente Convosco. Pensam eles, cada um, que minha ações são contra o Senhor. A verdade é que não conseguem enxergar que elas têm por objetivo um bem maior, que também é aquele que guia as criações divinas. Sou apenas um pequeno grão em todo o plano que arquitetais, mas tenho certeza de que sou parte dele, e a maior prova disso é que me ajudais a vencer meus inimigos, golpeais suas faces com insuspeita força por intermédio de meu corpo, minha palavra e meu poder. Prova disso é que jamais me punis, apesar de meus inimigos clamarem em Vosso nome. Prova disso é que só faço chegar mais perto de meu objetivo, apesar das invectivas contra mim. E tenho certeza de que no fim dos tempos levantarei e me mostrareis as conseqüências dos meus atos. "Vês aquele belo lugar, que foi bom para viver? É resultado de tuas ações, de tua coragem para ser impopular, para ser forte e contra as vozes que te acusavem." Isso me direis no fim dos tempos, e eu humildemente aceitarei Vossa companhia ao entrar em meu novo reino, uma parte do mundo novo em que viveis.

Senhor, prova de que estais do meu lado é que todo dia posso colocar a cabeça no travesseiro e dormir tranqüilo, neste que é o único mundo que existe, além daquele que é eterno. Apesar do que dizem, de todas as psicologias e teorias e todos os materialismos, sei que isso prova, sim, pois Vós castigais todos aqueles que estão contra Vosso projeto. Não é outro o motivo de castigardes aqueles que se opõem a mim, e não me castigardes. Não tenho medo dos meus inimigos, pois Vós me protejeis. Em paz me deito e logo adormeço, porque, Senhor, só vós me fazeis repousar em segurança.

Quando perguntam: como pode, alguém como eu segue calmo e realizado, em direção aos meus objetivos, cada vez mais perto, enquanto eles, que se acham justos, sofrem, padecem, se destroem. A resposta é simples. Eles estão contra o Senhor. Não são sinceros, pois não pensam no bem comum e futuro da criação humana. Entre eles a corrupção é profunda e essencial - não um meio para atingir a felicidade da criação, mas uma forma de crescerem mais um pouco, terem um pouquinho mais para o próprio prazer imediato enquanto tentam desviar o mundo de seu destino magnífico. Eles só fazem enterrar, com palavras, aqueles que odeiam, enquanto eu só uso a língua pala Vos louvar. Quando eles entenderem isso, verão que há justiça divina e que eu sou a prova disso.

Eu venho a Vós, Senhor, e sei que serei atendido. Venho pedir que me indiqueis novamente o caminho, que deis novamente a certeza. Porque não é sempre fácil encarar a oposição incansável daqueles que me acusam. Venho pedir que seja renovada a certeza de que estou no caminho que me traçastes. Não estou só porque tenho a Vós como companhia, então preciso que Vos pronuncieis. Não estou triste porque me confortais, então preciso que entreis em minha mente e me façais gozar a vida, de olho na salvação. Não morro, porque me ressuscitareis. Por isso venho pedir Vossa palavra, e vindo de um deus até o silêncio significa.

26.5.08

Textos que não escrevi - mas gostaria

Os diferentes conceitos de passado e futuro em Sergio Porto e Stanislaw Ponte Preta (a bipartição entre criador e criatura não é apenas de humor, mas também de visão de mundo, principalmente em relação ao progresso e de memória).

Ser e agir - uma análise da música "Mulher Barbada", de Adriana Calcanhoto, em que a personagem-título representa aquilo que é (pela aparência), em oposição àquilo que age (domador, trapesista, palhaço)

15.5.08

Leitores

Existem vários tipor de leitores.
Alguns buscam na leitura apenas um passatempo - ou melhor, algo para matar o tempo, se esquecer dos infortúnios da vida.
Outros lêem avidamente, mas sem gosto, como alguém que aprecie andar nas ruas para ver apenas os horrores do mundo e dizer: "Sou melhor do que isso." O contrário disso é aquele que lê como um deslumbrado, como alguém que nunca havia visto um bem tão grande, e por isso, com pudor, se recusa a avaliar o que lê.
Por fim, há aqueles que lêem como um caçador, que olham com alguma atenção o que lhe interessa, mas que abatem, trazem para si apenas aquilo que, sentem, pode fazer diferença em suas vidas, aquilo que é digno de entrar na constituição de seus corpos, mesclar as células com as suas. Mais do que erudição, o que eles buscam é um livro que os impeça de dormir, que os transforme.