28.2.05

Madrugada

Sempre, quando a madrugada acaba, sinto-me frustrado. O fim não poderia chegar. A madrugada não é a sucessão de inícios e fins que é o dia, este terreno marcado por limites exatos, a interminável seqüencia de horários estigmatizados - a hora de comer, de dormir, de trabalhar,de acordar ou dormir.
A madrugada não é nada disto. Ela é a suspensão do tempo - meia-noite, duas horas, quatro, seis, o sol e a lua são na madrugada o mesmo astro viglante. Por isso a madrugada frustra. Pois ela é o eterno que acaba. Com a experiência de madrugadas consecutivas, a certeza de que outra frustração sobrevirá à atual frustração cristaliza um sentimento de indestrutível angústia. Mesmo angustiados, não abrimos mão da migalha de eterno, negamos a volta à esquizofrenia diária.
(Não confundam magrugada com a night. Esta é o império do ego, da mentira, é um teatro do qual todos querem sair para colher os frutos da atuação. A madrugada é o reino da fantasia, do id, é o lugar onde podemos viver continuamente o inconsciente.)

complemento ao que meu amigo André Pecini escreveu em <">www.poraguaabaixo.blogspot.com>

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