13.2.05

À beira do abismo

Contando: um, dois, três (para tomar a decisão); um, dois (para virar o braço); um, dois, três (aproximadamente, para o pára-choque cortar as pernas, que não vejo). Claro, só atropelei porque senti ódio. Odeio a miséria e o futuro, o paraplégico e a criança. Odeio só por um segundo, antes de me arrepender – mas, desta vez, à beira do abismo, pulei antes de sentir medo.

***

paLAvra, FRAse, GRIto, suspiro, oFENsa, GRIto, cchhoorroo. Tantas vezes vi no cinema. A histeria é curada com um tapa no rosto. Isto que ela faz, no entanto, é consciente. Me soltei. Um instante antes da queda, pensei que bom se ela entendesse que esses socos não são sinceros – mas, desta vez, só depois de pular é que temi o abismo.

***

Peguei na camisa, desenrosquei a tampa, bebi um gole. Olhei o asfalto, a praia, a lagoa. O segredo é não dar tempo à reflexão – mas só é possível ter prazer se for até o final. O único prazer verdadeiro é o ilimitado, o impacto de voltar a ser matéria.

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