25.4.05

O colecionador

Discos. Fitas. Isqueiros. Selos. Brinquedos. Bandeiras.
Brancos: azuis, vermelhos, amarelos, verdes, lilases. Dourados. Prateados.
Incensos. Perfumes. Vazios.
Carros que não andam. Aviões que não voam.
Trancados em cômodos: corredor, sala, sala, corredor, escritório, cozinha, banheiro, sala, quarto.
E o velho anda entre os objetos, corre, desliza. Mesmo se fosse cego, voaria pelos ambientes como o sangue corre pelas veias, como o ar entre as folhas, como a eletricidade dentro do fio.
Eu sou a pessoa mais viva que existe, me disse o velho.
Perguntei o porquê.
Por que morro e nasço de novo, para mais uma vez morrer e renascer. Cada objeto que adquiro é uma vida nova para mim, curta.
Não cansas, perguntei.
Imagina: cada objeto é diferente. Tive milhões de vidas.
São tantas e não te parecem iguais?
Não te perseguem em sonho os objetos abandonados?
Tu não te angustias?
A todas essas questões, ele dá uma única solução: Os objetos estão mortos, eu lhes tiro a vida. Desisti de colecionar seres humanos.

2 Comentários:

Anonymous Anônimo escreveu...

Que lindo Lucas...

Você me anima a escrever um blogue. Vou recomeçar. Juro.
Sabe, acho que você deveria ser escritor. Deve ter centenas de argumentos nessa cabecinha, que muitas vezes parece oca. Nada que a maturidade e os calos nas mãos não resolvam.
Voltarei aqui, silenciosamente, para te visitar.

beijos, Nique

8:49 PM  
Anonymous Anônimo escreveu...

Lucas o seu pensamento é brilhante pois, vc mostra a essência das coisas simples que existe no mundo.

1:29 PM  

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