8.3.05

Exposição de meu estado depressivo

Caso me perguntem qual o pior sentimento que experimentei, não hesito em responder: o conhecimento da morte. O grande choque de realidade, a destruição de qualquer metafísica. A descoberta do maior paradoxo é também a falência de qualquer possibilidade de encontrarmos a origem e a verdade: como pode tudo ser, ao mesmo tempo, finito e inexorável? Como pode o desejo, sermpre infinito - e que, em última instância, é o eu -, não conseguir se impor ao que existe?
O segundo pior sentimento é a saudade. Melhor dizendo, a saudade é o conjunto em que se encontra o elemento que chamei "conhecimento da morte". Afinal, o que é a saudade? É a consciência de que o desejo está sendo desperdiçado, de que ele não se realizará, de que mesmo a transcendência é limitada. Afinal, a única salvação que restou - a transcendência pela liberdade - à sociedade também se mostra impossível.
Ontem sorvi um trago dessa saudade. Andando pela rua, olhei uma garota de uns 15 anos, loura de olhos azuis, de uniforme do colégio, saindo da aula. O sorriso mais bonito que já vi. Enquanto meu desejo voava e fazia os movimentos mais rebuscados, eu continuei andando em direção ao trabalho. Ainda olhei uma vez mais para trás, um último contato com a criança que fui, constantemente apaixonada.
Lembro Cristo - um dos três grandes personagens fictícios da Filosofia -, que dizia que, quem quisesse seguí-lo, deveria abandonar quaisquer relações afetivas. Ele estava certo: a única felicidade duradoura - a única liberdade possível - é a solidão.

3 Comentários:

Anonymous Anônimo escreveu...

Realmente impressionante. A consciência da finitude, por sinal, apenas deveria nos levar a atitudes mais despretensiosas e menos angustiadas. No entanto, liberdade é angústia. De acordo com um amigo meu, o Dostoievskii (como ele escreve, direto do russo), escreveu algo sobre felicidade e solidão serem opostos. São os dois grandes desafios do homem, na minha opinião: conviver com a morte e a solidão... Já devemos ter conversado sobre isso. Agora, mais do que a saudade de alguém, a saudade de um tempo passado é dolorosa. Já dizia o Casimiro de Abreu (e eu tive o trabalho de procurar isso, porque acho muito foda):

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
¿ Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
(...)

Andre, com preguiça de 'logar in'

10:37 AM  
Anonymous Anônimo escreveu...

Comentário simplista e do tempo da vovó: a gente só sofre porque ama. Que acontecerá então com quem ama a humanidade inteira?

10:41 PM  
Anonymous Anônimo escreveu...

André, quem é você? Eu sou Olívia, irmão do Lucas, e seu comentário só fez confirmar as marcas que nossa mãe deixou em nossas vidas. Esta poesia do Casemiro de Abreu ela nos recitava quase todos os dias. Outra trecho da literatura que marca minha vida pessoal e profissional também é uma herança dela:

"Que es la vida?
Un frenesi.
La vida es una ilusion, una sombra, una ficcion.
Y el mayor bien es pequeño
Que toda la vida es sueño
Y los sueños sueños son"
(Calderón de La Barca)

10:47 PM  

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