21.3.05

Nada retorna

As palavras fazem fila para que eu as expresse. Uma atrás da outra, em cima de uma corda bamba: só um segundo de desatenção e as palavras caem, empurradas por outras, ao precipício sem fim.
Portanto, desde o meu pensamento o que domina é o signo da fila: o tempo é uma sucessão de instantes sem conexão entre si a não ser o fato de um suceder o outro; a cidade é um fila de espaços delimitados que, por sua vez, acomodam filas tão variadas quanto a variedade da atividade humana; o trânsito é uma fila de carros sem fim, em que homens e mulheres têm a ilusão de que vão a algum lugar; a História é uma fila em que seres a nascer tomam o lugar de seres já mortos. Mesmo o espaço virtual é uma fila de dígitos que empurram outros por um fio: o ciberespaço só tem sentido se os dígitos nunca estancarem seu movimento.
Talvez todos tenhamos percorrido os mesmos lugares, mas em uma posição diferente da fila. Talvez tudo que exista esteja sempre caminhando na mesma direção, um grande rebanho de pensamentos, palavras, matérias, átomos e limites. Só o desejo olha para trás. Só o desejo reduz seu passo. O desejo – este é o nome da força transversal ao tempo. O desejo, ele apenas, é como o anjo benjaminiano. Desejo, este é aquele que quer que a vida volte. Desejo – tu queres mudar o mundo que, no entanto, não muda mundo. O desejo é tudo que existe.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo escreveu...

Parabéns Lucas, mais uma vez com poucas palavras vc conseguiu mostrar sua determinação.

1:38 PM  

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