22.3.07

Richard Zimler

"Aquilo que mais me lembro dessas manifestações era o profundo desapontamento com os judeus que eu sentia nos esquerdistas franceses. As vozes deles estavam tão roucas de indignação que, quem os visse, pensaria que cada um deles tinha sido pessoalmente traído pelo Sionismo. Eu não conseguia entender porque eles de se sentiam assim — e porque é que eles se manifestavam sempre contra Israel e não contra regimes bem piores em países como a China e a África do Sul — até que, quinze anos mais tarde, li as memórias de Jorge Semprun, Lite­ratura ou Vida. Foi então que compreendi como, para muitos intelectuais europeus, os judeus passaram a representar os explorados e as vítimas em qualquer parte do mundo. Apoiá-los tornara-se uma manifestação evidente de um firme compromisso na luta contra o mal, qualquer que fosse a sua aparência. Na página 36 da edição inglesa, Semprun comenta que criou um amigo judeu num dos seus romances exatamente por essa razão. Escreve ele: «O Judeu — mesmo passivo, mesmo resignado — era a intolerável encarnação dos oprimidos.» Quando li isso, compreendi então o que não compreendera naqueles anos, ao observar aquela manifestação anti-sionista na Place de la Concorde: que os Israelenses, ao rejei­tarem o papel de vítima passiva — a mais tolerante das representações cristãs tradicionais –, rejeitaram ao mesmo tempo os termos de amizade com a esquerda européia. Se Semprun estava certo, então eles tinham rompido um pacto tácito que dizia: gosta de mim por ser brutalizado."

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